Ninguém morre por ser feliz (2)
Hoje,
o ser humano é apenas um número. A sociedade é dirigida a partir dos números
recolhidos minuto a minuto: isto subiu, isso desceu, aquilo manteve-se. Poucos
se interrogam sobre as causas, sobre os porquês, sobre as possíveis soluções.
Ouvimos charlas, conferências, participamos em discussões acaloradas sobre o
assunto, mas pouco mais fazemos do que olhar para o mesmo quadro dependurado, há
anos, na mesma parede.
Este
desastre social (a que nos referimos no texto ”ninguém morre por ser feliz (1) ”)
deveria fazer parar os responsáveis pela direção dos povos e forçá-los a
procurarem respostas para os porquês destes números.
Haverá
certamente muitos motivos para as quais os especialistas na matéria darão
sábias respostas. Não me atrevo a inventar causas, nem propostas de solução. Limito-me
a refletir um pouco sobre o assunto e a escrevinhar sobre situações possíveis que
podem contribuir para a anulação dos valores que deveriam ser suporte do ser
humano: destruição do que era mantido como estabilizador individual e social
sustentável; falta de condições mínimas de sobrevivência, sem esperança de soluções;
quebra dos reguladores de ontem e ausência de suportes dignos da vida em
sociedade; escravatura a que se aproximam as atividades laborais e a
banalização da instabilidade; sentido de posse total e individual de tudo o que
pode render dinheiro e poder; ditadura dos grandes grupos económicos e financeiros
que anulam os mais pequenos; domínio absoluto do dinheiro, onde as pessoas não
contam; desumanização do ser humano alicerçada na ausência de valores
dignificantes do agir do homem; loucura de viver ausente do outro e sem
esperança de que, um dia, talvez tudo possa ser melhor. O desinvestimento
afetivo interpessoal.
No meio
desta selva desorganizada, parece não haver lugar para nos sentarmos à mesa e
conversar sobre o dia de amanhã. Vive-se apenas o dia de hoje, sem cor e com
poucos horizontes.
Governados
por imberbes convencidos e gananciosos que ditam leis para se governarem,
perdidos no destino, sem destino, sente-se o desastre de se viver nesta
sociedade onde o ser humano deixa de o ser: é um número. Mas ai da sociedade
constituída por pessoas que se tornam números: ou se transforma, ou definha e
morre…porque não é possível viver com gente que se alimenta de gráficos tracejados
por pessoas sem entusiasmo pela vida. “Para o deprimido, a vida não é fonte de alegria e de
prazer; pelo contrário, é um sofrimento, uma dor. O depressivo não vive,
sobrevive”, escreve a Visão.
No
dia internacional da felicidade, não nos podemos admirar por encontrar Portugal
e a Grécia nos últimos lugares do ranking da felicidade, mas isso também não
passa de uma estatística…é apenas mais um dos 120 dias mundiais, aperaltados
disto e daquilo, que talvez ainda nos façam lembrar de que ninguém morre por ser
feliz!
Nota:Imagens captadas aquando da exposição de Roberto Chichorro em Aljezur - 10-01-2009