domingo, 28 de outubro de 2012

Avaliações (2)



Avaliações

                                                                                                   (Continuação)
Sobre a nudez forte da verdade,
o manto diáfano da fantasia

(Epígrafe de “A Relíquia” de Eça de Queirós)


IV Sua Excelência o SIADAP

A administração pública ficou cheia de intenções embrulhadas num pomposo título que dá pelo nome de SIADAP. Não sei se consigo decifrar porque a coisa é tão complicada como a sua aplicação. Penso que é assim: Sistema integrado de avaliação do desempenho da administração pública. Entendamo-nos: se o rótulo não é fácil de digerir a sua aplicação é dura, complexa e, por isso, não raras vezes parece uma simples brincadeira de crianças a jogar ao faz de conta. Se não é explique-se: porque é que alguns setores da administração não aplicaram ou se aplicaram, não lhe deram grande importância? Porque é que em muitas situações a avaliação é efetuada, com frequência, depois de muito tempo decorrido após o desempenho a avaliar? Finalmente, se não há dinheiro, se não há progressão na carreira, fica-se apenas pelos valores éticos de melhoria? Pronto: este parâmetro não correu bem, agora prometo que para o ano vou fazer melhor.

Tudo isto significa que parte do descrito nos diplomas legais se tornou pouco viável. Hipócrita, tem servido para cumprimentos de sorrisos amarelos e para delimitar inúteis campos de poder. Valeu (vale) a pena? O caminho percorrido e a percorrer em cada dia melhorou com o SIADAP? A propósito, salvo erro, já se caminha na série SIADAP 3 (tipo Big brother, série 3), sempre com o pregão de melhoria...melhoria …Tantos estudos encomendados, tantos inquéritos por “dá cá aquela palha”… esperemos que um dia também apareça uma reflexão crítica sobre o SIADAP, 1,2,3 ou 4… que não esqueça as angústias e o tempo que cada funcionário perdeu (perde) com um processo de “melhoria e excelência ”que parece ter nascido de "pernas para o ar".


As melhorias e a excelência que se perseguem, teimosamente, não aparecem, mas vão tracejando marcas dolorosas, injustiças, inimizades e ambientes de cortar à faca.

 (Continua)

sábado, 20 de outubro de 2012

Avaliações (1)


Sobre a nudez forte da verdade,
o manto diáfano da fantasia

(Epígrafe de “A Relíquia” de Eça de Queirós)
Avaliações

I -  Preâmbulo

Ao longo da atividade laboral de qualquer cidadão, há momentos de interrogações, dúvidas, medos e desilusões. Caminhamos, trabalhamos e convivemos com e como ilustres desconhecidos. Seguimos lado a lado e conversamos sobre o que vai acontecendo, feitos suaves “Moscardos” de Luigi Pirandello que se veem ao espelho do dia-a-dia. Sentimos cada momento que vamos apagando com uma esponja embebida do instante e ficamos tranquilos. Simpáticos, desejamos - ou evitamos - que se tracem novos caminhos e novos jeitos de caminhar. Deixamos cair as coisas por esta e por aquela razão ou, pelo contrário, cegos e teimosos, prosseguimos na construção de ruínas num esforço inglório de dar aos outros a realidade que cada um julga ter. Mas, um dia, disseram-nos que tínhamos o nariz torto e, então, caímos na realidade.

 II - Boneco de nariz empinado

Nos anos recentes, a “avaliação” foi tema recorrente de conversa, de discussões sustentadas por afincada argumentação, sempre cada vez melhor e, provavelmente, inútil. Hoje, fala-se de “avaliação”, mas o tema já deixou de ser epicentro de conversa, de discussão e de enoitadas controvérsias pois, numa tarde sem álcool, as esferas do poder decidiram reparar que tinham nas mãos um boneco com olhar de espanto, de  nariz empinado, descaído para a esquerda ou para a direita. Os presidentes, diretores e demais chefes, nessa tarde cinzenta, revisitaram-se ao espelho, olharam para o seu nariz e emitiram juízo: nasceu torto e pronto. Desde então, o boneco, fonte de apaixonadas teses, tornou-se ídolo de menor importância.

III - Inquietação

Correu um tempo de implementação dos mais diversos processos de avaliação: nas empresas, câmaras, juntas de freguesia, secretarias, escolas e por aí além. Tudo o que se fazia deveria ser avaliado. Foram desenhados instrumentos de avaliação suportados por inventadas metodologias sempre defendidas como as melhores. As grelhas de registo coloridas acompanhavam o avaliado para onde quer que fosse. A observação laboral tornou-se quase exaustiva. Os programas informáticos pretendiam facilitar, mas não dispensavam as evidências enroladas nas folhas de papel. Aqui e ali subiam ao trono alguns pregoeiros que, com novas fichas grelhadas nas mãos, se mostravam finos conhecedores dos benefícios da avaliação. O valor do trabalho de cada um passou também a depender do resultado da observação dos dossiês bem gordos, dos relatores, dos observadores e das mariposas atentas à abundante responsabilidade que tinham nas mãos. A inquietação surgiu nas empresas, câmaras, juntas de freguesia, secretarias, escolas e por aí além.
(Continua)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Voltar ao assunto

- Ora aqui está uma maneira de voltar ao assunto!

 
Depois de algum tempo sem publicar, voltei à “Sala das colunas”, agora com um desenho diferente.

As colunas “Retratos vazios”, Artes e letras” e “Fotográfica” ainda não se apresentam como se pretendia. Estáticas e longas, dificultam a publicação, limitam a oportunidade de leitura e do comentário.

O objetivo de separar os temas pelas colunas que suportam a "Sala" seria, teoricamente, tornar mais fácil a consulta e a leitura; no entanto, tal facto veio a revelar-se pouco funcional para o visitante e pouco facilitador de novas publicações. 

Numa futura reorganização, iremos procurar encontrar nova forma de divulgar textos e imagens nas referidas colunas, procurando sempre que o visitante encontre, em cada recanto do blogue, a simplicidade, a dignidade e o espaço adequado para o diálogo proposto na abertura da “Sala das colunas”.