segunda-feira, 5 de outubro de 2015

MAIS TRANQUILO

Esta noite já dormirei mais tranquilo. Dentro de pouco tempo, terei um governo a governar-me bem, como sempre fez nos últimos anos. Será um governo em que não votei, mas que me vai governar. É assim a vida, nem tudo o que se deseja se pode ter. Amanhã já ninguém dirá que votou no CDS/PSD, quando muito, a engolir a saliva, poderá ouvir-se “…  a coligação, eles fizeram isto, eles fizeram aquilo, tinha de ser…” O certo é que ninguém votou no Paf.

Cinco de Outubro de 2015. República. Antes era feriado. O país enriqueceu por ter mais uns dias de trabalho, sem trabalho. O Senhor presidente da República disse que não iria às tradicionais comemorações. Faz muito bem. Fica a trabalhar. Se não é feriado porque é que o presidente tem que ir a festas, que lhe podem perturbar o silêncio, a reflexão e obrigá-lo a sair do seu condomínio fechado? Haverá outra justificação?

- Há.

E foi um velho amigo que me esclareceu o assunto: provavelmente, o senhor Presidente da República não vai às comemorações porque talvez seja monárquico!


Fiquei de boca aberta. Poderia lá ser?

PS___________
A República portuguesa não corre o risco de extinção por o presidente estar indisponível (João Vaz, jornalista, in CM)

Assim dormirei ainda mais tranquilo.

domingo, 4 de outubro de 2015

A CONCLUSÃO É ESTA


Não é muito habitual transcrever frases de outros autores, mas não resisto a esta, escrita e lida, provavelmente ainda a  quente:


    A conclusão é esta: Portugal é o único país da Europa onde, depois de quatro anos de uma política terrível de austeridade, aqueles que a levaram a cabo conseguem voltar a vencer.  
    opinião de Henrique Monteiro


Que votantes são estes, que medo é que os persegue? Que cultura? 

Há coisas que não entendo. 

sábado, 3 de outubro de 2015

APELO DRAMÁTICO

Última hora: Cavaco faz apelo dramático ao voto nas legislativas de amanhã… (observador   http://vfpt.pt/Uh)
Esta mensagem acabou de cair no meu telemóvel.

Claro que vamos votar, senhor presidente. O seu apelo dramático comoveu-me até às lágrimas. Receio até que, amanhã, o meu boletim de voto seja identificado por alguma lágrima furtiva. Mesmo assim, votarei com um pouco mais de esperança de que o povo português deixe de ser tratado como sobrevivente dos números. Os números nunca serão o fundamento do meu voto. Sou humano, somos humanos e queremos ser tratados com a dignidade que nos é devida. Recuso ser tratado por gente que todos os dias me diz que gastei tanto, que deveria poupar mais, que não há dinheiro (só há para alguns), que vivo acima das minhas possibilidades, que não pedi fatura para poder ganhar um carro de luxo e que, provavelmente, também fugiu aos impostos que…

Senhor presidente, votaremos no amanhã com um pouco mais de esperança de não voltarem cavacos de qualquer espécie – secos, verdes ou molhados - sem cabeças de listas que nos chamaram “peste de cabelo grisalho”, sem convencidos que nos vão corroendo, sem narigudos submarinos, sem salgados que vão para a Comporta brincar aos pobrezinhos, sem aldrabices, nem rendeiros em cada esquina.


Enfim, se amanhã o meu boletim for identificado por alguma lágrima comovida e rebelde, não foi pelo discurso dramático de V.Ex.ª, que “sabe e fisga tudo”, mas pela dor de quem não tem salário para  alimentar a família, pelo olhar triste de quem não compra medicamentos porque lhe tiraram a pensão de sobrevivência, pela angústia daqueles que não enviam os invisuais à escola porque isso dá prejuízo, pela tristeza que tudo isto me deixa porque muitos ... continuam a fazer a mesma cruz no boletim de voto, apesar da cruz que carregam.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

DOMINGO VOU VOTAR. GOSTAVA TANTO DE PARTIR PARA OUTRAS TERRAS!

Estou a concentrar-me. Seriamente concentrado. Umas horitas antes da reflexão oficial. Penso, penso… penso e nada. O nariz adunco irrevogável, continua a ser adunco e magro. O menino de oculinhos de menino do coro continua a espreitar mais quatro anos, em cima de outros quatro com que nos anestesiaram, como se não tivessem culpas nenhumas do que aconteceu. Tiraram quase tudo ao povo português e cantando e rindo fazem arruadas para tamborilarem o seu bom trabalho! Não temos nada devemos -lhes tudo! Até a barbie da assembleia da República esticou o cabelo para se observar melhor. Quanto ao presidente, nada se pode dizer: já sabe tudo. Fizeram tudo bem…até criaram mais fome que pode purificar o pecador pobre.

Ai este liberalismo sem regras, onde as pessoas estão ausentes, subjugadas sob os números: eu, tu, nós somos números! Só isso! Neste país, onde apenas o trio de desgrenhados governantes sportinguistas, que pula como macaco fora do galho é que se julga injustiçado e move processos a toda a gente….Algo está errado: toda a gente é que deveria mover processos a quem tramou este povo português. Mas não. Vão voltar ao poder, aos pulos, desgrenhados e cantadores da justiça que lhe fizeram por voltarem a ser eleitos. Assim não há futuro que resista. O medo trama a mudança. Mas é preciso mudar!

A minha arma é o pensamento. A minha arma é o meu julgamento. A minha arma é o meu voto.

CDS, PSD, PS? Não são esses que há dezenas de anos vão vivendo do poder? e que me tiraram o subsídio de natal, de férias, esganaram a saúde, o ensino e a justiça? Que teceram uma rede de interesses de maçons, opus dei e de outros grupos conceituados envoltos em seitas de domínio?


Como gosto de fotografia, há dias fiz um clique e repeti-o três vezes. E não é que as fotografias ficaram quase iguais? Eram fotografias más e sem qualquer interesse. Então fui buscar o tripé, mudei de lente, vi as coisas mais ao pormenor e saiu uma fotografia bem diferente. Com linhas de luz muito interessantes! Estava ali o meu voto. Ele poderia ser uma gota de vento que Agamémnon esperava para partir para Troia. Para outras terras.








Domingo vou votar. Gostava tanto de partir para outras terras!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

COLUNA CENTRAL

Quando iniciei a “Sala das colunas” pensava, ingenuamente, que poderia alimentar várias secções: coluna central, retratos vazios; artes e letras e, finalmente, coluna fotográfica. A pouco e pouco deixei em ruínas “retratos vazios”. Li alguns retratos em que o alvo se plagiava mutuamente e, por isso, não valeria a pena voltar a pegar na EOS e fotografar de novo as ruínas fixadas. Os objetos focados incendiaram-se mutuamente e, por isso, deixei cair a coluna vazia, cheia de maus retratos. Hoje são apenas ruínas construídas com pedras que deslizaram, uma a uma, pelas encostas da vida.

Artes e letras poderia ser um bom espaço, mas a organização e formatação ”blog” não me dava grande engenho para boas apresentações. O trabalho e tempo que despendia não justificava o produto final. Coluna fotográfica, bem, a coluna fotográfica colocou-me muitas dúvidas. Depois de uma série de exposições, a coluna fotográfica também iria cair? – Também.

Agora, permanecerá apenas a coluna central de porta aberta, onde entrará quem quiser entrar, estará quem quiser estar e conversará quem quiser conversar. As outras colunas não serão apagadas. Ficarão como estão, como papel envolvente de um duro, felizmente curto, pedaço de vida. Construíram o seu espaço, deram o seu testemunho, disseram bem e mal. Viveram e tornaram-se ruínas. Hoje é muito melhor deixar a coluna central sem caras plagiadas de bonecas de palha, ansiosas do poder, ainda que para isso tenham que lixar os outros.

Hoje, olhando os dias que percorremos, as coisas não acontecem naturalmente: são forjadas e forçadas a acontecer. Esquecemos que um dia a verdade ausente do que acontece será sempre a primeira camada de terra que pisamos e que nos pode sujar os pés.


Será assim a nova cara interior da sala das colunas, melhor, da resistente coluna central.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

TANTO TEMPO


Tanto tempo. 11 de Novembro de 2013. Tanto tempo. Mas senti sempre a “Sala das colunas”.




Nessa data publiquei o meu último texto “O ministro e os exames”. Disse mal do ministro – grande desilusão. Depois parei e não me perguntem porquê. Parei e pronto. Simplesmente não me apeteceu escrever. Apenas ler, ver teatro, fotografia, exposições de pintura,  escultura e deixar correr os dias a observar o mundo como se fosse um belo rendilhado do mosteiro da Batalha. Belo. Apontado para o infinito, sempre novo e diferente.

Agora volto. E volto com vontade de permanecer. Não sei até quando  isso “vai acontecer”.
Volto porque surgem notícias danadas e risos bravos de cinismos.

Sempre se cruzaram por mim. Porquê agora? – Não sei.

Não me armarei em armeiro e muito menos em cavaleiro de espada pronta a degolar. Sou apenas. Escrevo apenas. Falo do que me apetecer, das coisas espinhosas... e nem terei a certeza de que valerá a pena. 

Fraco desejo é a bajulice de quem se quer armar em salvador da pátria. Nem bajulices, nem salvador da pátria.


Fiquemos por aqui. Deu para começar.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O MINISTRO E OS EXAMES


“Não temos um governo, temos um jardim de jotinhas engravatados, em dia de festa” – dizia-se, há dias, num programa de rádio. Neste jardim, há alguns ministros que depois de engrimpinados no poder, rapidamente conseguiram destruir todas as expetativas que arregimentaram antes de serem ministros.

O meio escolar português viu um resto de esperança no ministro da educação; porém, a sua atuação cedo demonstrou que foi um erro depositar nele qualquer expetativa de um futuro melhor para o ensino público. Chegou ao poder, sentou-se, esqueceu-se do passado e fez-se “soldado fiel”. (É preciso não esquecer que na cadeira do poder, apenas vivem sentados os “soldados fiéis”).

Soldado afeiçoado a banhar-se no poder, o ministro da educação tornou-se áspero vendedor, a retalho, do ensino público. Gentil filosofante, todos os dias nos brinda com nova descoberta de rifas apelativas da qualidade, onde se enrola o fruto do roubo da dignidade dos professores e o desmantelamento das instituições de ensino público.

Às escondidas, passa por algumas escolas enquanto vai assinando resoluções que crescem como cogumelos venenosos, destruidores das escolas que visita.

Um desses fungos superiores, já decididos, dá pelo nome de exames.

Sempre que há um qualquer problema com programas, metas, estratégias, sucesso/insucesso ou pedagogias, apregoa-se que é necessário mais exigência. Vulgar e sentenciador, numa tarde sem sono e alheia da realidade, o ministro encontrou a receita para a qualidade: prescrever mais exames.

Estou em crer que qualquer dia teremos para cada disciplina um exame trimestral ou semestral. Neste processo, os professores - eleitos bodes expiatórios e tidos como causa única do insucesso - não passam de profissionais preparadores de exames. Assim, o “fiel soldado” das fileiras do governo afunila o crivo da entrada na Universidade, “poupa” os cofres do estado e vai abençoando as escolas privadas.

Mestre na confusão da opinião pública, (re)descobriu outro exame: para se ser professor, não basta ser preparador de exames, é preciso estar apto para entrar “com qualidade” na “arte de ensinar”. Que fazer? – Exames. A decisão não tardou e o primeiro tortulho venenoso já está marcado para o dia dezoito de dezembro. Segue-se um segundo. Exames pagos, claro.

Não faz sentido: um professor que fez estágio pedagógico, por vezes com mestrado, com alguns anos de ensino, já foi considerado apto e credenciado para lecionar. Agora, determina-se que dois exames serão o certificado de aptidão e a “carta da qualidade” de professor.

Realizados os exames, conhecidos os resultados, estou a imaginar o ministro a esfregar as mãos de contente e a interpretar a pauta das classificações: tantas reprovações, tantos suficientes e tantos bons. “Com estes resultados, os encarregados de educação poderão estar descansados com a qualidade do ensino em Portugal”.

Por mim, mandava prender, já, os professores universitários, pois o próprio ministério tutelar - que lhes paga - não lhes reconhece qualidade. Se não for este o caso, demita-se o ministro e mande-se tratar este homem que vive obcecado por exames.

Bela prenda de natal… um professor feito ministro que, antes de o ser, foi apenas uma ficção.