“Não temos um governo, temos
um jardim de jotinhas engravatados, em dia de festa” – dizia-se, há dias, num
programa de rádio. Neste jardim, há alguns ministros que depois de
engrimpinados no poder, rapidamente conseguiram destruir todas as expetativas
que arregimentaram antes de serem ministros.
O meio escolar português viu
um resto de esperança no ministro da educação; porém, a sua atuação cedo demonstrou
que foi um erro depositar nele qualquer expetativa de um futuro melhor para o
ensino público. Chegou ao poder, sentou-se, esqueceu-se do passado e fez-se “soldado
fiel”. (É preciso não esquecer que na cadeira do poder, apenas vivem sentados
os “soldados fiéis”).
Soldado afeiçoado a
banhar-se no poder, o ministro da educação tornou-se áspero vendedor, a
retalho, do ensino público. Gentil filosofante, todos os dias nos brinda com
nova descoberta de rifas apelativas da qualidade, onde se enrola o fruto do
roubo da dignidade dos professores e o desmantelamento das instituições de
ensino público.
Às escondidas, passa por
algumas escolas enquanto vai assinando resoluções que crescem como cogumelos
venenosos, destruidores das escolas que visita.
Um desses fungos superiores,
já decididos, dá pelo nome de exames.
Sempre que há um qualquer problema
com programas, metas, estratégias, sucesso/insucesso ou pedagogias, apregoa-se
que é necessário mais exigência. Vulgar e sentenciador, numa tarde sem sono e
alheia da realidade, o ministro encontrou a receita para a qualidade: prescrever
mais exames.
Estou em crer que qualquer
dia teremos para cada disciplina um exame trimestral ou semestral. Neste
processo, os professores - eleitos bodes expiatórios e tidos como causa única
do insucesso - não passam de profissionais preparadores de exames. Assim, o “fiel
soldado” das fileiras do governo afunila o crivo da entrada na Universidade,
“poupa” os cofres do estado e vai abençoando as escolas privadas.
Mestre na confusão da
opinião pública, (re)descobriu outro exame: para se ser professor, não basta
ser preparador de exames, é preciso estar apto para entrar “com qualidade” na
“arte de ensinar”. Que fazer? – Exames. A decisão não tardou e o primeiro tortulho
venenoso já está marcado para o dia dezoito de dezembro. Segue-se um segundo.
Exames pagos, claro.
Não faz sentido: um
professor que fez estágio pedagógico, por vezes com mestrado, com alguns anos
de ensino, já foi considerado apto e credenciado para lecionar. Agora,
determina-se que dois exames serão o certificado de aptidão e a “carta da
qualidade” de professor.
Realizados os exames,
conhecidos os resultados, estou a imaginar o ministro a esfregar as mãos de
contente e a interpretar a pauta das classificações: tantas reprovações, tantos suficientes
e tantos bons. “Com estes resultados, os encarregados de educação poderão estar
descansados com a qualidade do ensino em Portugal”.
Por mim, mandava prender, já,
os professores universitários, pois o próprio ministério tutelar - que lhes
paga - não lhes reconhece qualidade. Se não for este o caso, demita-se o
ministro e mande-se tratar este homem que vive obcecado por exames.
Bela prenda de natal… um
professor feito ministro que, antes de o ser, foi apenas uma ficção.