quarta-feira, 22 de maio de 2013

SILÊNCIOS







Tal como um miúdo, o fotógrafo vai-se movimentando, olhando e instalando realidades. Eremita e vagabundo, “Pintor de batalhas”, não passa de um construtor de ruínas indutoras de factos. De bonecos entretecidos.

O construtor de imagens, não oferece realidades, mas antes um código de sombras e de sugestões. As imagens capturadas congelam fragmentos onde nada se nega nem se confirma.
A imagem constrói-se seccionando coisas, amarrotando-as, tornando-as parciais, aprisionando-as num permanente elogio de fragmentos que não conhecem o vocabulário do “isto quer dizer” e apontam sempre “para isto foi”. Eurídice já não está lá.
Lá fora, para o “olhar” das lentes, o mundo resume-se a um conjunto de objetos perecíveis, de ruínas retalhadas e grafadas à luz do pensamento, petrificadas pelo olhar de Medusa.
O pensamento prolongado no clique para o “isto foi”, que tanto me seduz, imobiliza o “isto foi”, atira-o para o passado e oferece-lhe um futuro amarelado e cheio de silêncios. Porém,

há silêncios que gritam

e silêncios que são apenas belos e errados. “Sentir que uma coisa é bela – diz Nietzsche – significa senti-la necessariamente de uma forma errada”, ainda que seja pelo olhar de Medusa ou pela beleza de Eurídice que se perdeu para sempre.

Mas eu não sou fotógrafo e sempre fui avesso a expor.

Recentemente, nem sei bem porquê, desencostei estas imagens fixadas em suporte digital ou no filme fotográfico de pequeno formato, o “velho 135”, já em desuso e, com todos os riscos de qualidade que sabia que estava a correr, sequenciei alguns fotogramas e outros tantos trabalhos digitalizados. Assim se construiu “Silêncios” que deu nome a esta estória de silêncio, quase todo monocromático.
Simples e sem pretensões, esta exposição, superiormente enriquecida pela beleza lírica dos textos de Eduardo Bento, mostra apenas as linhas de luz que se cruzam nas ruínas que instalei… e que o tempo vai envelhecendo por sombras e silêncios errados que, na sua banal frequência, não deixam que os humanos contemplem Eurídice.  
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Exposição de fotografia e texto
Biblioteca Municipal de Tomar, 20 a 30-05-2013
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terça-feira, 21 de maio de 2013

SILÊNCIOS - Exposição: fotografia e texto



Dizia eu, no texto “DOIS MESES… é muito tempo”, que tinha aproveitado esta pausa para preparar uma exposição fotográfica. Assim aconteceu.

São vinte quadros, quase todos monocromáticos, colocados sobre painéis ou no chão que o visitante pisa.

“Simples e sem pretensões, esta exposição, superiormente enriquecida pela beleza lírica dos textos de Eduardo Bento – vinte textos poéticos elaborados a partir de cada uma das imagens – mostra as linhas de luz que se cruzam nas ruínas que instalei… e que o tempo vai envelhecendo por sombras e silêncios errados que, na sua banal frequência, não deixam que os humanos contemplem Eurídice.  (Excerto do texto presente na abertura da exposição “Silêncios”).

Exposição presente na Biblioteca Municipal de Tomar, de 20 a 30 de Maio

domingo, 19 de maio de 2013

DOIS MESES... é muito tempo.

Se a memória não me falha, penso que a última publicação na “Sala das colunas” ocorreu a 24 de março. Já lá vão quase dois meses.
Há dias, recebi uma mensagem eletrónica que me perguntava se tinha abandonado o blog e deixado de publicar. A questão tinha razão de ser. – Dois meses sem publicar é muito tempo…
- Não. Não abandonei o blog, nem deixo de publicar.
Às vezes, acontecem coisas por que não esperamos, ou por que esperamos demais e acabamos por nos cansar. Foi o caso.
Durante este tempo, aguardei que um técnico informático reconstruisse, reconfigurasse ou fizesse de raiz a “Sala das colunas”. Enfim, procurava um novo visual para a “Sala” e  maior capacidade e facilidade de colocação e divulgação de imagens. A coisa foi indo, foi indo…lentamente. Tão lentamente que desisti pelo cansaço da lentidão. Na altura, em março, suspendi as publicações pois aguardava pelo novo visual e pelas novas funcionalidades da “Sala das colunas”. Porque as coisas também ultrapassam a paciência de qualquer santo que está à  espera dois meses por um trabalho que seria pago, abandonei o projeto e voltei à "sala", tal qual como estava inicialmente. Simples. Funcional na coluna principal e menos nas outras colunas.
Mas se este tempo não serviu para publicar… foi, pelo menos, aproveitado para preparar a exposição “Silêncios” de que falarei na próxima publicação.