quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ELEIÇÕES (5)

O MEU  VOTO


Depois desta conversa toda, tamborilada na sala das colunas, ao longo de quatro posts, parece-me correto falar um pouco sobre o meu sentido de voto e sobre as razões da minha opção. Não basta rir e criticar publicamente o que se ouviu ou leu. É preciso ir um pouco mais além.


Voto num concelho onde já vivo há mais de trinta anos. Assisti ao seu forte desenvolvimento, à construção de infraestruturas, ao embelezamento de espaços e à construção de diversos equipamentos relevantes para a população. Vivo numa cidade agradável. Torres Novas.

No entanto…

Se não estou enganado, conheci apenas três presidentes de câmara, eleitos. Os mandatos foram longos. Ontem, como hoje, estou em desacordo com a eternização do poder que se tem vindo a repartir, sistematicamente, por duas forças políticas. Nestas eleições, desejo mudança.

Neste ténue panorama de programas das equipas candidatas, no ato de decidir, tenho diversas possibilidades de opção.

- Que decisão tomar? Vamos por exclusão de partes.

CDS – Não conheço os candidatos, nem a sua força local, mas a avaliar pelo seu líder nacional e tendo em conta a triste figura que fez, recentemente, enquanto ministro, que nem catavento estaria melhor em dia de tempestade, não faria do CDS meu representante na governação. A eleição é autárquica, mas se a base social de apoio do líder é a mesma… votar numa lista partidária cujas bases apoiam um catavento ansioso de poder… não oferece confiança a ninguém.

PSD – Ora aí está uma equipa que deseja disputar o poder sobretudo com o PS. Liderada por um presidente de junta eterno (não conheci outro nessa freguesia) e onde paira a auréola de um presidente passado, duvido que a sua equipa venha acrescentar alguma coisa de novo ao instituído, nem sei se terá alguma força para lá chegar.

PS – Não queria acreditar quando vi a constituição da equipa. O que é que aconteceu ao PS local para apresentar esta lista? Na possibilidade de vencer teremos: um vice que passa a presidente e um presidente que passa a presidente da Assembleia que, por sua vez, irá substituir o anterior Presidente da Assembleia que passa a vice presidente da Câmara. Entenderam? Não? Mas é assim.

Não queria acreditar, repito, quando vi que o número dois – o possível vice futuro - é o mesmo (convém recordar) que, aquando do imposto autárquico, decidiu a favor da subida do imposto para valores máximos propostos pelo executivo, por recurso ao voto de qualidade. Votou contra a população, já sufocada de impostos, que o elegeu. (Ver saladascolunas.blogspot.com,  posts dos dias18 de Nov. 2012 e 3 de Dez.2012). Passados poucos dias, o mesmo executivo camarário deliberou descer os valores já aprovados pela Assembleia e, sem delongas, o mesmo presidente que usou o voto de qualidade para subir os impostos (IMI) votou dias depois a sua descida. Não gosto de cataventos, nem de figuras decorativas, nem de decisores que não decidem por si.

CDU – Há quantos anos a CDU apresenta o mesmo candidato? Todos falam de mudança no quintal do vizinho, mas quando se toca no nosso quintal as coisas complicam-se e, pior ainda, eternizam-se. Pelo caminho vai-se discorrendo sobre os malefícios da longa permanência no poder. Nada de novo. Nada de novo mesmo.

BLOCO, melhor, Helena Pinto - votarei em Helena Pinto: porque tem experiência política, não tem os costumeiros maus hábitos caracterizadores de quem já exerceu o poder autárquico por longo tempo, demonstra saber, capacidade de ação e disponibilidade para o diálogo. Em diversas situações, tive oportunidade de ouvir Helena Pinto e confesso que a forma como desconstrói cada situação problemática e a capacidade de comunicação suportada culturalmente, me convenceram. Tenho agora a oportunidade de lhe dar o meu voto. No entanto, no caso da sua eleição, que desejo, espero, que seja a própria a dar um sólido contributo para a mudança em que voto. Coragem para mudar. Oxalá!


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ELEIÇÕES (4)

Expressões da campanha

Depois dos cartazes e das imagens que os preenchiam, fixemo-nos, momentaneamente e sem grandes comentários, nas expressões-slogan  da campanha de alguns candidatos:

- Por um conselho onde os idosos sejam felizes – Gostei desta. Por momentos ainda equacionei a possibilidade de procurar por lá uma casita. É longe, no Minho, mas vale sempre a pena viver numa terra com os idosos a jogar cartas e a sorrirem de felicidade.

- A força de todos por um concelho com melhores transportes públicos – Ótimo, se avariar algum autocarro, a força de todos pode ajudar a empurrar.

 - Juntos conseguimos - apregoava um homem e uma mulher, lá para o norte.

 - Juntos estamos a conseguir - confirmava outro. Não sei bem o que estão a conseguir, mas façam força que acabam por conseguir.

- Ontem, ponte para o futuro – Onde é que eu já vi isto?

- Vale a pena, diz-se para os lados de S. Tirso. Não se diz é o que é que vale a pena, nem para quem.

- Fazer o que ainda não foi feito – repete, pouco original, uma senhora lá para os lados de Esposende. O que está feito não é preciso fazer, não será, minha senhora?

- Ganhar o futuro – garantir a proximidade. Não percebo, mas como também não voto no norte do país, não estou preocupado. O que é que isto quer dizer, senhores candidatos?

- Uma cidade mais à frente. Boa, esta é uma ideia muito à frente… não sei de quê, mas é muito à frente.

- Aqui há futuro. Pois há… bom, ou mau?

- Juntos seremos mais, apregoa-se para os lados de Alpiarça. Já ouvi isto não sei onde, mas nunca cheguei a perceber como é que se faziam as contas. Ignorância minha, é claro.

- Com os dois pés em Lisboa, anuncia um candidato. Esta não lembrava ao diabo. Se não ganhar, onde é que o candidato irá deixar os pés? Penso que os lisboetas não precisam de dois pés. Precisam de pensamento crítico e seriedade… não de mais dois pés a calcorrearem os passeios.

- Sempre consigo – lê-se, algures, no centro do país. Aqui só vejo duas possibilidades interpretativas: ou o candidato consegue fazer sempre tudo e isso pode ser muito bom, ou um perigo, ou o candidato quer estar sempre consigo (comigo). E se eu não quiser? Já anda nestas lides há tanto tempo!... talvez ficasse melhor colocar no cartaz um coraçãozinho ternurento, desses que agora se fazem com as mãos, porque é sabido que os eleitores gostam quase sempre de corações e, assim, entenderiam melhor a mensagem, digo eu.

- Persistência na continuidade. Li isto não sei onde. Acho tão infeliz o lema deste (s) candidato (s), pois até parece que estão satisfeitos com o que está feito; resta saber se os eleitores também estão.
(…)
Se o eleitor tivesse presente os lemas e cartazes dos diversos candidatos com que se cruza a caminho da mesa de voto, provavelmente, desistiria e não votaria. A falta de imaginação, o vazio repetitivo e a pobreza da imagem tornam-se inutilidades que não motivam, nem esclarecem ninguém; são apenas ruídos postados nos cruzamentos e rotundas das aldeias e cidades. Mas o cidadão ignora isso tudo e irá exercer o seu direito de voto. Vota com um resto de esperança que ainda encontra do lado de fora do que se diz e escreve nas campanhas. Ainda bem. Há muito mais sol para além das frases vazias e das inestéticas imagens. Vamos julgar, escolher e votar.

Fiquemo-nos por aqui. Foi uma pequena amostra do que se apregoa por este país, onde as cores e os símbolos do CDS e PSD quase que desapareceram dos cartazes… Mal vai o país em que os próprios partidos que governam têm vergonha de si próprios.



terça-feira, 24 de setembro de 2013

ELEIÇÕES (3)

No post anterior dizia que, na breve viagem por este país, me cruzei com a “festa” dos cartazes dos muitos candidatos ao exercício do poder local: A. Municipal, Câmara, Assembleias e Juntas de freguesia.

Escrevi, na altura, que “do vazio da mensagem e dos risos, aqui se fará breve propaganda”. Governados por jotinhas, poucos levam o país político a sério e os cartazes dos candidatos parecem demonstrar isso mesmo pelo vazio de ideias e ausência de propostas de quem pretende ter poder.

Neste Portugal pequenino, ganhe a, b ou c, continua a ser gente estranha a governar. Porém, a simples mudança de caras pode tornar o ambiente menos pesado e cansativo. Diga-se que já estou farto de ver sempre as mesmas caras, os mesmos falsos sorrisos, a mesma verborreia. Mudem-se, pelo menos, as caras!

Os primeiros indícios de eventual mudança de caras poderiam ser os meios de divulgação… mas “oh! tristeza!”, se são escassas as possíveis mudanças da futura governação, menos ainda são as dissemelhanças dos suportes de campanha.

Falemos dos cartazes, quase todos inestéticos e que, como a maioria dos parcos ingredientes desta campanha, não são para levar a sério:

- Lá bem para o sul, recordo-me, um outdoor deixou-me de boca aberta: um contrapicado apresentava o candidato numa postura inclinada para a frente, com um rosto de esforço, provavelmente a levantar-se do assento e a querer sair porta fora. Mau gosto.

- Um outro apresentava-se com os braços nas ancas, olhar de desafio, a lembrar um forcado a preparar uma pega de caras. Sabe-se quem o candidato quer pegar, mas ainda não se conhecem os rabejadores.

- Um terceiro apresenta o líder à frente, mãos cruzadas sobre o peito, à defesa, com um grupo de seguidores num plano diferente.

A maioria dos cartazes com que me cruzei por este Portugal fora apresentava dois rostos ou, com menos frequência, uma equipa completa. Da equipa toda nem sequer vale a pena falar, pois o elevado número de olhares acaba por inviabilizar a leitura dos painéis. O público-alvo tornou-os marginais e, se olhou para eles foi, provavelmente, para descobrir nele o vizinho ou para esboçar um sorriso sobre a expressão esforçada e atabalhoada de algumas figuras.

Em muitos concelhos, os outdoors mostram duas personagens: o candidato à presidência de Câmara e o candidato à presidência da Assembleia. Alguns ex-presidentes de Câmara aparecem agora como candidatos à presidência das Assembleias Municipais. Não sei quem vai proteger quem, nem quem vai decidir, nem sei qual das caras se transformará em rosto fantasma.

A propósito, li há dias num jornal local uma interessante reflexão sobre este assunto (uma das muitas com a qualidade a que o autor já nos habituou), titulada “Presenças fantasmas”, com assinatura de Jorge Carreira Maia (in, Jornal Torrejano, Nº 888-II série, de 20 de Set. de 2013). Referindo-se a dois candidatos à A.M. e que já foram presidentes de Câmara, termina deste modo: …não poderão exercer o poder municipal, mesmo que o seu partido vença, mas a sua presença fantasmática será mais real do que a presença de qualquer vereador eleito. Terrível é ir viver para uma casa assombrada.

Está tudo dito. A presença do antecessor com poderes de Presidente da Assembleia pode ser apoio, ameaça ou defesa, mas será sempre uma sombra…

...e o que este país menos precisa é de ágoras assombradas onde a entrada só é permitida a alguns espíritos e a auréola de outros teima em pairar, tornando os centros de decisão num poiso de amigos de voo noturno.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ELEIÇÕES (2)

Início ou fim de festa?

Agosto é mês de férias, tempo de sair das rotinas diárias e de deixar o despertador adormecido.

Como qualquer comum cidadão – com a ressalva de já não ter horários rígidos para cumprir – segui estrada fora, alheio a qualquer rota bem definida.

Cruzo algumas aldeias e cidades enleadas de verde e ruas escondidas coloridas de papel, alecrim e murta; outras já deixavam perceber que a festa estava a esvair-se no tempo: pétalas de papel a adejar ao sabor do vento, arcos depenados de verdura, fitas pelo chão. Sinais de fim de festa.

Mas, por este país fora, encontrei outra festa:

gigantones politiqueiros emoldurados, de triste figura, sorriso forçado, bajulador e, pretensamente, cativante de simpatias alheias. Faziam o frete de estarem ali a imitar risos por entre rugas mal disfarçadas. Enfim, ossos do ofício de dinossáurios da política de careta postada em cada esquina.

Vi um pouco de tudo: cartazes a cores, a preto e branco, pequenos, grandes, solitários ou em grupo. Alguns, mais simples, mostram a cara dos candidatos e uma ou outra frase vulgar, outros, tanta é a gente fotografada que se confundem com uma equipa de futebol à procura do campeonato que teima em fugir-lhe. Há ainda os pares de presidentes, ridentes e calculistas, protetores vagos, fantasmas e anjos da guarda de exercícios passados.



Ao longo da minha viagem li tantas frases de propaganda que não resisti a tomar nota de algumas delas. Do vazio da mensagem e dos risos, aqui se fará breve propaganda, sem nunca esquecer de que o país está em crise, indigente, mas em campanha eleitoral...

…levada a cabo pela vera-efígie da gente fantasma que o deixou de rastos, de mão estendida e a que ninguém tem coragem de pedir contas. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ELEIÇÕES (1)

Hoje dei uma volta pelo mercado e não me ofereceram um eletrodoméstico, nem uma bola de Berlim, nem pão, mas acenaram-me com muito barulho, papéis coloridos com as mesmas caras de sempre, bonés, uma esferográfica, falsos sorrisos e manhosas simpatias.

Não ouvi uma palavra sobre o futuro deste país. O que me diziam para comprar vinha sem luz e estava vazio. 

Não me incomodei por ficarem ofendidos por não aceitar.