Tal como um miúdo, o fotógrafo vai-se movimentando, olhando e instalando realidades. Eremita e vagabundo, “Pintor de batalhas”, não passa de um construtor de ruínas indutoras de factos. De bonecos entretecidos.
O construtor de imagens, não
oferece realidades, mas antes um código de sombras e de sugestões. As imagens
capturadas congelam fragmentos onde nada se nega nem se confirma.
A imagem constrói-se
seccionando coisas, amarrotando-as, tornando-as parciais, aprisionando-as num
permanente elogio de fragmentos que não conhecem o vocabulário do “isto quer
dizer” e apontam sempre “para isto foi”. Eurídice já não está lá.
Lá fora, para o “olhar” das
lentes, o mundo resume-se a um conjunto de objetos perecíveis, de ruínas
retalhadas e grafadas à luz do pensamento, petrificadas pelo olhar de Medusa.
O
pensamento prolongado no clique para o “isto foi”, que tanto me seduz,
imobiliza o “isto foi”, atira-o para o passado e oferece-lhe um futuro
amarelado e cheio de silêncios. Porém,
há silêncios que gritam
e
silêncios que são apenas belos e errados. “Sentir que
uma coisa é bela – diz Nietzsche – significa senti-la necessariamente de uma
forma errada”, ainda que seja pelo olhar de Medusa ou pela beleza de Eurídice que
se perdeu para sempre.
Mas eu não
sou fotógrafo e sempre fui avesso a expor.
Recentemente, nem
sei bem porquê, desencostei estas imagens fixadas em suporte digital ou no
filme fotográfico de pequeno formato, o “velho 135”, já em desuso e, com todos
os riscos de qualidade que sabia que estava a correr, sequenciei alguns
fotogramas e outros tantos trabalhos digitalizados. Assim se construiu “Silêncios”
que deu nome a esta estória de silêncio, quase todo monocromático.
Simples e sem
pretensões, esta exposição, superiormente enriquecida pela beleza lírica dos
textos de Eduardo Bento, mostra apenas as linhas de luz que se cruzam nas ruínas
que instalei… e que o tempo vai envelhecendo por sombras e silêncios errados
que, na sua banal frequência, não deixam que os humanos contemplem Eurídice.
Exposição de fotografia e texto
Biblioteca Municipal de Tomar, 20 a 30-05-2013
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