Está um fim de tarde de
tempo cansativo. Uma chuva miudinha embrulha-nos o olhar no nevoeiro, enquanto ensaiamos
pequenos passos pelo terraço da casa. Tempo escuro e quase triste que não deixa
ver a serra. Que tempo!
Apetece estar à lareira.
Fiquemos então à fogueira. A
panda dorme no sofá grande, sempre a dormir! A dara, lá fora, continua a
molhar-se, a ladrar e a galopar desalmadamente quando vê movimentos ou barulhos
estranhos no seu território.
Sentemo-nos e conversemos um
pouco. Sobre o tempo, não. Está frio.
Às vezes corremos demasiado
e não damos atenção aos pardais que se aninham no beiral da casa, ao bom dia
que se atira distraidamente, ao pequeno almoço trincado em silêncio e a despachar,
ao cinema que não se vai, ao teatro de que se gosta e não se vê. Corremos
despenteados ao sabor do vento e do tempo chuviscado e passamos ao lado da fogueira que
nos aquece. Não damos atenção às portas fechadas e sem manípulo. Seguimos em frente.
Sempre em frente. Casa, comboio, carro, trabalho, elétricos, como nós elétricos
a mastigar a sandes da tarde. Caminhamos enquanto falamos ao telefone, fazemos
barulho durante todo dia, saltamos passeios e encurtamos caminhos para apagar
as fogueiras que os outros acenderam e, tarde, voltamos para casa. Uf! Amanhã
há mais. Mais acidentes, mais sirenes, mais doentes, mais bebedeiras, mais
drogas, mais hospitais, mais gente que não vive. Sempre mais. Só as noites
continuam a ser curtas.
É noite. Dentro da casa, a
fogueira crepita numa dança quente de línguas de fogo. Chamas bonitas e contentes.
“À lareira, cansados não da obra/mas porque a hora é hora de cansaços,/ não
puxemos a voz/ acima de um segredo”(1).
É bom estar aqui. Continuemos
a conversar, enquanto aquecemos as mãos, quietos e descansados. Não lançamos
foguetes, mas sorrimos e gargalhamos com as pastilhas elásticas dos pães de queijo
e enesgamos o nariz ao pão travestido de bolo inglês. Sob o calor desta
fogueira, bebamos champanhe! Hoje é dia de canções de sonho.
É meia noite. Voltemos ao terraço
da casa, talvez a chuva tenha seguido o seu caminho e já nos deixe ver a serra.
Não digas nada, olha apenas as estrelas e sorri em cada passo. “Cada coisa a
seu tempo tem seu tempo”(1). E hoje é o teu tempo-dia: ouve o silêncio das palmas
dos sons da noite, acende as velas e ergue uma taça de champanhe à vida porque
“há só noite lá fora”(1). Parabéns.
Obrigada por sempre estarem presentes. São quem mais amo...
ResponderEliminarEsta taça que hoje ergo é também para vós, que me guiam na estrada da vida, sempre acompanhando com um sorriso ou uma palavra de incentivo.
Para sempre, por tudo,
Obrigada...