Não bastava a troika que, caridosa, nos vem visitar de
três em três meses para ver se o laço que nos estrangula a garganta continua
com o nó bem feito e convenientemente apertado, para vir agora o FMI com um
relatório encomendado que nos encafua ainda mais e nos trata como se fossem
nossos donos.
Os técnicos do FMI – contradizendo
propostas anteriores – vieram intrometer-se nos assuntos internos de um país,
numa completa devassa da sua soberania, por lamentável iniciativa dos
governantes portugueses. Demasiado mau: por cá, não há ideias, propostas,
soluções. É preciso que venham estranhos em socorro dos imberbes governantes,
pois, no relatório, apenas consta a assinatura de um português.
De uma forma ou de outra,
vêm dizer que os professores são um grupo privilegiado: é necessário despedir,
despedir… despedir.
Os funcionários públicos são
os responsáveis da situação deste país. É necessário despedir, despedir…despedir.
Os pensionistas têm pensões
de 200, 300 ou 400€ e isso é um luxo. É necessário cortar, cortar… cortar.
Os trabalhadores por conta
de outro têm ordenados (500, 600, 700€) muito elevados. É necessários descer,
descer… descer.
TAP, ANA, ensino público, gestão
das escolas…dão prejuízo. É necessário privatizar, vender… privatizar.
Os portugueses vivem
inseguros. O medo bateu-lhes à porta e passou a fazer parte da vida de cada um:
poucos sabem quanto vão receber no fim do mês e, pior ainda, se lhes cai na
conta o ordenado ou o despedimento.
Assustados, começamos a ter medo de
viver neste país, enquanto passam impunes os fazedores de opinião que
transformaram as suas falas baratas em projetos de bem-estar pessoal. Os
gestores da coisa pública arruinaram-nos, mas continuam a pavonear-se por ai,
sabendo que nada lhes acontece. Foram esses construtores de fortunas pessoais,
bajuladores de um presidente, timoneiro demagogo, de riso forçado e falas
angelicais, os responsáveis da dureza com que hoje se vive em Portugal. Lamentam-se,
dizem que as reformas não lhes chegam, mas a austeridade passa-lhes ao lado, pelo
menos enquanto o verniz social se aguentar e o rosto popular não lhes barrar o
caminho.
Governados por marionetas manipuladas por estrangeiros vindos de países que
cresceram à custa do que nos venderam e emprestaram, vamos perdendo a força
para desatar o nó que nos sufoca a vida. Emagrecemos. Não será preciso muito tempo para que,
para os governantes, os sacrifícios exigidos ao povo português se tornem numa
forma de refundação banal e o medo e
a insegurança se transformem em normal forma de vida. Porém, os excessos acabam
quase sempre por destruir quem os comete. Valha-nos isso. Esperemos que seja
breve.
Este texto, pelo qual te cumprimento, fez-me lembrar as duas últimas estrofes da " Mensagem " de Fernando Pessoa e que aqui recordo:
ResponderEliminarNem rei nem lei, nem paz nem guerra/Define com perfil e ser/Este fulgor baço da terra/Que é Portugal a entristecer/Brilho sem luz e sem arder,/Como o que o fogo-fátuo encerra
Ninguém sabe que coisa quer./Ninguém conhece que alma tem,/Nem o que é mal nem o que é bem./(Que ânsia distante perto chora?)/Tudo é incerto e derradeiro./Tudo é disperso, nada é inteiro./Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Lamentavelmente, acho que o quinto império preconizado pelo autor acima mencionado, não vai ser português mas sim germânico.
Desde sexta feira que vivo à luz dos candeeiros que foram de meus pais. A petróleo. Sem energia elétrica, só hoje me foi possível visitar a "sala das colunas". Tive então a oportunidade de ler e publicar o teu comentário que agradeço. Nem mais, Fernando Pessoa já sentia o nevoeiro que varria Portugal. Esperemos que não aconteça um quinto império alemão. Depois do nevoeiro...da falta de luz, virá mais nevoeiro? Não, não é possível.
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P.S.: Não é entendível a reação da EDP às anomalias de fornecimento de energia. Manifestou não estar minimamente preparada para este tipo de imprevistos... Proximamente,falaremos sobre este assunto.