Enquanto
esperamos, cruzamos o olhar com outros olhares, distraídos. Estamos ali e
pronto. Alheios, descruzamos as pernas e os olhos e esfregamos o nariz com os
nervos da espera; pouco mais é possível fazer.
Sentados,
esperamos e desesperamos. Não somos
muitos, mas esperamos.
-
Maria Inês, faz favor.
A
mulher de bata branca, bonita, alta e quase magra, varreu o corredor com os
olhos castanhos, enquanto a mão direita deslizava suavemente pelos cabelos.
- Maria Inês!
Ninguém
responde. Continuadamente distraídos, voltámos a cruzar olhares como se aquele chamar
por Maria Inês nos interessasse. Seria impossível que não estivesse por ali uma
Maria Inês só para responder ao apelo daquela mulher bonita, alta e quase
magra.
-Ah!
Estás aí!... Vá, é a tua vez!
Ficámos
então a saber que Maria Inês andava por ali tranquila, a saltitar, corredor
abaixo, corredor acima, abraçada a uma boneca de longos cabelos pretos. Parecia
interessar-se mais com o olhar da mamã do que com quem a chamava.
-
Vamos, podem entrar.
Maria
Inês entrou para o gabinete de mão dada com a mamã. Nós continuámos por ali,
alheios, à espera, a cruzar e a descruzar os olhares e as pernas.
Depois,
um pouco depois, Maria Inês apareceu à porta, com a mesma boneca debaixo do
braço, desinteressada com o que se passava à sua volta. Largou a mão da mamã e
voltou a correr pelo corredor fora.
A
mamã saiu do gabinete, lenta e triste. De olhos colados ao chão, deixou a
porta entreaberta com um longo suspiro de sofrimento. Depois, olhou para trás e
encostou um pouco mais a porta do gabinete médico e seguiu… seguiu desalinhada
e mais anoitecida.
Inês regressou, aos saltitos, com a boneca debaixo do braço. Encaixou a mãozita na mão da
mamã e fixou aquele olhar meigo que tão bem conhecia.
-
Adeus, Maria Inês, até para a semana! – Ritualizou a mulher de bata branca.
(Nota: fotografia: pormenor de um mural de GRAÇA MARTINS)
(Nota: fotografia: pormenor de um mural de GRAÇA MARTINS)
Sem comentários:
Enviar um comentário