Não tenho que pedir desculpas a ninguém.
Não recebo lições de moral sobre questões de sensibilidade
(social). As que eu tinha a receber,
recebi-as em casa, da minha família, da escola e da igreja católica
(resposta de F. Ulrich, presidente do BPI, ao deputado João Galamba).
O povo português aguenta mais
sacrifícios… ai aguenta, aguenta!… Então se os sem-abrigo aguentam, porque é
que nós não aguentamos? (F. Ulrich, presidente do BPI).
Quando
ouvi as palavras deste senhor, ilustre responsável diretor de um banco, fiquei a
um passo de rir e a outro de chorar, mas decidi-me ficar pela revolta. Nem rir,
nem chorar. Esta ilustre gente que dirige este pequeno país não conhece
minimamente as condições em que o povo português vive. Não sabe fazer contas para
sobreviver porque a vida nunca o exigiu. Porém, para muitos, os magros euros
deixam muito mês ao deus-dará. Para o senhor Ulrich não. Um dia, talvez seja
ele que não se vá aguentar, se Portugal se tornar num cantinho dos sem-abrigo. Todos
aguentamos tudo, ou quase tudo…mas isso não é paz social, nem progresso, nem alicerce da dignidade humana.
Voltemos
às lições deste ilustre diretor do BPI: ele dá lições, ele fala, ele considera,
ele fala, ele dá sentenças, ele diz… os outros, sentados sobre o fio da navalha
da vida, ouvem e devem de obedecer. Entende-se, é diretor…e os diretores
dirigem, governam e não recebem lições de ninguém. Mas não foram eles que
deixaram este país neste estado? Então não deveriam ser eles condenados a contar
os tostões da sobrevivência? Claro que não serão julgados, até porque as lições
que tiveram foram na escola, em casa, da família e da Igreja católica. É aqui
que começam as inquietações e muitas interrogações: estas lições vieram da escola
pública que agora pretendem destruir? dos amigos sem abrigo? Da igreja
católica, qual? A dos sem-abrigo ou da Opus Dei?
Os
grandes grupos de interesses económicos passeiam-se por onde lhes apetece,
crentes na justiça inexistente que os sustenta… até que um dia este benevolente
povo que os aguenta perca a paciência e, cansado de aturar isaltinos,
loureiros, valentins, sócrates, cavacos, ulriches e outros convivas semelhantes,
lhes estenda os lençóis debaixo da ponte e os deixe a contar tostões em vez de
milhões. Um povo sem-abrigo não precisa de bancos para nada!
Todos
sabemos que tudo isto não passa de desabafos e lamentações.
Lá
fora tudo continua na mesma. O vento continua a soprar, se houver vento, a fazer
sol, se houver sol, a nevar se a neve cair. Valha-nos isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário