1 - Invólucro Mensagem
Como habitualmente abri a
caixa de correio (do correio, correio, não o eletrónico, entenda-se) e no meio
da publicidade sem interesse, das cartas da eletricidade, da água e de outras
para pagar… encontrei um “invólucro”: mensagem da Autoridade Tributária e Aduaneira
(AT). A coisa pareceu-me séria.
Um pouco a medo e para
evitar contaminação, isolei o invólucro do resto das cartas, mas… de tão leve
que vinha que o deixei cair. Uma rabanada de vento aproveitou o gesto e vai
disto: de ziguezague em ziguezague, atirou o “invólucro” contra os arbustos.
Ainda estrebuchou um pouco, abanicou-se e por ali ficou. Desconfiado, fixei o “invólucro”
em fuga e, pé ante pé, aproximei-me sem fazer barulho, não fosse a cena repetir-se.
Estava ali uma comunicação da autoridade! A AT vinha facilitar-me a vida e é
para isso que as instituições servem: não obrigarem o cidadão a correr muito porque,
se o fazem, não há “invólucro”, nem cidadão que se preze, que não fuja.
Curvei-me a contragosto
perante o papel da autoridade tributária, segurei-o bem, não fosse a coisa
fugir de novo. Sem nenhum salamaleque, rasguei-o um pouco e abri.
Respirei fundo.
- Ah! Então é isto…estava em
dívida...sempre me considerei cumpridor…mas desta vez, não! Com que então em
dívida com a autoridade tributária e aduaneira, eficaz protetora deste país!…pior
ainda porque a dívida é de 2009. Antiga, mas nem por isso escapou. Nesta
altura ainda devia o IUC do meu velho UMM que, tranquilo, continua à espera de
uma bateria, à sombra do arbusto que segurou o “invólucro” que me envergonhava.
Que coisa! Fiquei chateado: o que fiz foi uma ofensa ao velho amigo jipe: não
anda, mas merece que se pague o imposto de circulação! É um direito seu, já adquirido!
Dobrei o envelope em meia
dúzia de asneiras, passei junto do jipe, passei-lhe a mão pela pintura
desbotada, pedi-lhe desculpa e garanti-lhe que iria resolver a calotice.
- Bem, não fui assim tão mau… 2007, 2008, 2010, 2011 estavam em dia e "gozavam o prato" com o ano fugitivo, marginal. No melhor pano caiu a nódoa: 2009 estava ali, naquele
papel, a apontar-me o dedo. A Autoridade decidiu envergonhar-me perante o jipe e “involucrar-me” num invólucro mensagem - correio registado, simples, nacional. (continua)
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