terça-feira, 24 de setembro de 2013

ELEIÇÕES (3)

No post anterior dizia que, na breve viagem por este país, me cruzei com a “festa” dos cartazes dos muitos candidatos ao exercício do poder local: A. Municipal, Câmara, Assembleias e Juntas de freguesia.

Escrevi, na altura, que “do vazio da mensagem e dos risos, aqui se fará breve propaganda”. Governados por jotinhas, poucos levam o país político a sério e os cartazes dos candidatos parecem demonstrar isso mesmo pelo vazio de ideias e ausência de propostas de quem pretende ter poder.

Neste Portugal pequenino, ganhe a, b ou c, continua a ser gente estranha a governar. Porém, a simples mudança de caras pode tornar o ambiente menos pesado e cansativo. Diga-se que já estou farto de ver sempre as mesmas caras, os mesmos falsos sorrisos, a mesma verborreia. Mudem-se, pelo menos, as caras!

Os primeiros indícios de eventual mudança de caras poderiam ser os meios de divulgação… mas “oh! tristeza!”, se são escassas as possíveis mudanças da futura governação, menos ainda são as dissemelhanças dos suportes de campanha.

Falemos dos cartazes, quase todos inestéticos e que, como a maioria dos parcos ingredientes desta campanha, não são para levar a sério:

- Lá bem para o sul, recordo-me, um outdoor deixou-me de boca aberta: um contrapicado apresentava o candidato numa postura inclinada para a frente, com um rosto de esforço, provavelmente a levantar-se do assento e a querer sair porta fora. Mau gosto.

- Um outro apresentava-se com os braços nas ancas, olhar de desafio, a lembrar um forcado a preparar uma pega de caras. Sabe-se quem o candidato quer pegar, mas ainda não se conhecem os rabejadores.

- Um terceiro apresenta o líder à frente, mãos cruzadas sobre o peito, à defesa, com um grupo de seguidores num plano diferente.

A maioria dos cartazes com que me cruzei por este Portugal fora apresentava dois rostos ou, com menos frequência, uma equipa completa. Da equipa toda nem sequer vale a pena falar, pois o elevado número de olhares acaba por inviabilizar a leitura dos painéis. O público-alvo tornou-os marginais e, se olhou para eles foi, provavelmente, para descobrir nele o vizinho ou para esboçar um sorriso sobre a expressão esforçada e atabalhoada de algumas figuras.

Em muitos concelhos, os outdoors mostram duas personagens: o candidato à presidência de Câmara e o candidato à presidência da Assembleia. Alguns ex-presidentes de Câmara aparecem agora como candidatos à presidência das Assembleias Municipais. Não sei quem vai proteger quem, nem quem vai decidir, nem sei qual das caras se transformará em rosto fantasma.

A propósito, li há dias num jornal local uma interessante reflexão sobre este assunto (uma das muitas com a qualidade a que o autor já nos habituou), titulada “Presenças fantasmas”, com assinatura de Jorge Carreira Maia (in, Jornal Torrejano, Nº 888-II série, de 20 de Set. de 2013). Referindo-se a dois candidatos à A.M. e que já foram presidentes de Câmara, termina deste modo: …não poderão exercer o poder municipal, mesmo que o seu partido vença, mas a sua presença fantasmática será mais real do que a presença de qualquer vereador eleito. Terrível é ir viver para uma casa assombrada.

Está tudo dito. A presença do antecessor com poderes de Presidente da Assembleia pode ser apoio, ameaça ou defesa, mas será sempre uma sombra…

...e o que este país menos precisa é de ágoras assombradas onde a entrada só é permitida a alguns espíritos e a auréola de outros teima em pairar, tornando os centros de decisão num poiso de amigos de voo noturno.


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