No post anterior dizia que, na breve viagem
por este país, me cruzei com a “festa” dos cartazes dos muitos candidatos ao
exercício do poder local: A. Municipal, Câmara, Assembleias e Juntas de
freguesia.
Escrevi,
na altura, que “do vazio da mensagem e dos risos, aqui se fará breve
propaganda”. Governados por jotinhas,
poucos levam o país político a sério e os cartazes dos candidatos parecem
demonstrar isso mesmo pelo vazio de ideias e ausência de propostas de quem
pretende ter poder.
Neste
Portugal pequenino, ganhe a, b ou c, continua a ser gente estranha a governar.
Porém, a simples mudança de caras pode tornar o ambiente menos pesado e
cansativo. Diga-se que já estou farto de ver sempre as mesmas caras, os mesmos
falsos sorrisos, a mesma verborreia. Mudem-se, pelo menos, as caras!
Os
primeiros indícios de eventual mudança de caras poderiam ser os meios de
divulgação… mas “oh! tristeza!”, se são escassas as possíveis mudanças da
futura governação, menos ainda são as dissemelhanças dos suportes de campanha.
Falemos
dos cartazes, quase todos inestéticos e que, como a maioria dos parcos
ingredientes desta campanha, não são para levar a sério:
- Lá
bem para o sul, recordo-me, um outdoor
deixou-me de boca aberta: um contrapicado
apresentava o candidato numa postura inclinada para a frente, com um rosto de
esforço, provavelmente a levantar-se do assento
e a querer sair porta fora. Mau gosto.
- Um
outro apresentava-se com os braços nas ancas, olhar de desafio, a lembrar um
forcado a preparar uma pega de caras. Sabe-se quem o candidato quer pegar, mas
ainda não se conhecem os rabejadores.
- Um
terceiro apresenta o líder à frente, mãos cruzadas sobre o peito, à defesa, com
um grupo de seguidores num plano diferente.
A
maioria dos cartazes com que me cruzei por este Portugal fora apresentava dois
rostos ou, com menos frequência, uma equipa completa. Da equipa toda nem sequer
vale a pena falar, pois o elevado número de olhares acaba por inviabilizar a
leitura dos painéis. O público-alvo tornou-os marginais e, se olhou para eles
foi, provavelmente, para descobrir nele o vizinho ou para esboçar um sorriso
sobre a expressão esforçada e atabalhoada de algumas figuras.
Em muitos concelhos, os outdoors mostram duas personagens: o candidato à presidência de Câmara e o candidato
à presidência da Assembleia. Alguns ex-presidentes de Câmara aparecem agora como
candidatos à presidência das Assembleias Municipais. Não sei quem vai proteger
quem, nem quem vai decidir, nem sei qual das caras se transformará em rosto fantasma.
A
propósito, li há dias num jornal local uma interessante reflexão sobre este assunto
(uma das muitas com a qualidade a que o autor já nos habituou), titulada
“Presenças fantasmas”, com assinatura de Jorge Carreira Maia (in, Jornal
Torrejano, Nº 888-II série, de 20 de Set. de 2013). Referindo-se a dois
candidatos à A.M. e que já foram presidentes de Câmara, termina deste modo: …não poderão
exercer o poder municipal, mesmo que o seu partido vença, mas a sua presença
fantasmática será mais real do que a presença de qualquer vereador eleito.
Terrível é ir viver para uma casa assombrada.
Está
tudo dito. A presença do antecessor com poderes de Presidente da Assembleia
pode ser apoio, ameaça ou defesa, mas será sempre uma sombra…
...e o
que este país menos precisa é de ágoras assombradas onde a entrada só é permitida a alguns espíritos e a auréola de
outros teima em pairar, tornando os centros de decisão num poiso de amigos de
voo noturno.
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